terça-feira, 23 de novembro de 2010

[Às vezes te odeio por quase um segundo...]

Pobre menina que deixa que as coisas pequenas a atinjam com a intensidade de um furacão e que tenta mascarar a decepção com a raiva quando ela sabe muito bem que o melhor a fazer nessas horas é ignorar e fingir que nada houve, que não há motivos para encher seus olhos de lágrimas. 
Ela se sente em dúvida, pensa muito e ao mesmo tempo tem a cabeça oca de pensamentos lógicos, pensa do mesmo modo de quem deseja atravessar uma rua, olha pra esquerda, olha pra direita e não sabe a qual dos dois lados deve prestar mais atenção.
Olhar pro lado é uma tarefa difícil pra ela, a menina, que em certos momentos passa a ser mais menina ainda, procurando colo sem ter coragem de pedir, com vergonha de demonstrar suas fraquezas. Uma grande bobagem, logo ela, que se considera uma das pessoas mais fortes de que ela mesma tem conhecimento, ter medo de descer do seu falso esconderijo onde ela finge que supera tudo sem a ajuda de ninguém.
Quando ela vê certas coisas, ela imagina outras, mas pensa nas consequências, examina lá no fundo do peito e escarafuncha milhões de motivos que a fazem não dar o passo que mudaria tudo, que a faria atravessar a avenida mais turbulenta sem olhar para nenhum lado, muito menos para trás.
Tudo faz sentido nessas horas em que ela desacorda para a razão, nesse sono ela se perde, talvez até se engane, talvez... Quem poderia dizer que isso não valerá a pena? Não há garantias de que um dia ela não irá olhar para o passado e dizer: -ainda bem que resisti e hoje sou feliz.
A menina vive assim nessa esquizofrenia sentimental, rodeada pelas certezas mais duvidosas, pelas lembranças dos beijos e dos passeios de mãos dadas e vai ver que é por isso que consegue ver alguma luz na escuridão e sentir algum calorzinho no peito que a faz permanecer naquele lado da rua, naquela mesma calçada de sempre.

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